18 julho, 2005

Tradução do depoimento de Zé da Ilha, (linguagem de depoente)

patuá - forma giriática para substituir "o negócio", "a questão", "o problema".
gêlo - desprezo
esquinar - ficar parado em esquinas, à espera de algo
cabrocha - mulher
que preparasse a marmita e amarrotasse o meu linho no sabão - que cozinhasse para mim e lavasse a minha roupa
bordejava pelas vias - perambulava pelas ruas
abasteci a caveira - tomei uma bebida - uma cachaça
troquei por centavos um embrulhador - comprei um jornal
na quebrada da rua - na esquina
veio uma pára-quedas se abrindo - veio uma mulher demonstrando interesse pelo malandro
eu dei a dica - o malandro dirigiu um gracejo à mulher
ela bolou - a mulher foi receptiva à lisonja do malandro
eu fiz a pista - acompanhei-a
colei - aproximei-me, caminhando ao lado da mulher
solei - conversei com a mulher
bronquiou - demonstrou com palavras iradas, o seu desagrado
vivaldina - viva, esperta, inteligente
o cargueiro estava lhe comboiando - o namorado a estava acompanhando
morando na jogada - compreendendo a situação
o Zezinho aqui - forma do malandro referir-se a si mesmo
o cargueiro jogou a amarração - o namorado se aproximou dela
um cataplum no pé do ouvido - um soco ou bofetada na orelha
dei-lhe um bico com o pisante na altura da dobradiça - dei-lhe um pontapé no joelho
uma muqueada nos mordedores - forma de muque - um soco nos dentes
taquei-lhe os dois pés na caixa de mudança - saltei-lhe com os dois pés sobre o peito
ele se coçou, sacou a máquina e queimou duas espoletas - sacou o revólver e fez dois disparos
papai - (outra forma do malandro referir-se a si mesmo)
virou pulga - deu um salto
fêz a dunquerque - evadiu-se, fugiu (alusão à famosa retirada de dunquerque, na Segunda Guerra Mundial)
vermelho não combina com a cor do meu linho - referia-se ao vermelho do sangue
tira - policial, detetive, investigador.
fechar o paletó - matar
não tenho vocação prá presunto - referia-se ao seu apego à vida
borracha grande - ônibus
no fim do carretel - no fim da linha, no ponto final
bem no vazio da lapa - no Largo da Lapa
às 15 para a côr de rosa - às 17 horas e 45 minutos
matina - manhã (observe-se a influência do elemento imigrante através desse vocábulo italiano)
o roque do meu pandeiro - o ruído do meu estômago
china-pau - "china" - (pequenos restaurantes chineses que serviam pratos a preços populares, na época, muito comuns no Rio de Janeiro)
boi a mossoró com confeti de casamento - bife a cavalo com arroz
e uma barriguda bem morta - cerveja bem gelada
como o meu era nenhum - como não tinha dinheiro...
pedi ao caixa prá botá na pindura que depois eu iria esquentar aquela fria - pedi ao caixa um crédito, dizendo-lhe que pagaria a despesa mais tarde.
dizendo que eu era produto do mangue - o Mangue é um dos prostíbulos do Rio de Janeiro - (curioso notar o eufemismo desta construção)
me queimei e puxei a solingea - irritei-me e saquei a navalha (a marca do instrumento Solingen, passou a sinônimo de navalha)
fiz uma avenida na epiderme do moço - fiz um talho na pele...
êle virou logo américa - ficou vermelho como sangue (América Futebol Clube, cujo uniforme se compõe de camisas vermelhas)
dedo-duro - delator
xifópagos - policiais do Rio de Janeiro que sempre andam em duplas (também chamados Cosme e Damião)
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